O agro gaúcho e o desafio de construir um futuro resiliente

A reunião realizada nesta semana no Palácio Piratini, reunindo governo do Estado e entidades representativas do agronegócio, escancarou uma realidade que há muito tempo bate à porta do Rio Grande do Sul: o modelo atual de produção agrícola não resiste mais às novas dinâmicas impostas pelo clima e pela economia.

A histórica enchente de maio de 2024 trouxe visibilidade nacional para a situação gaúcha, mas o drama da estiagem – silencioso e persistente – segue devastando o campo e endividando produtores. O que se viu no encontro não foi apenas a busca por socorro emergencial, mas o reconhecimento de que o futuro do agro no Rio Grande do Sul depende de uma transformação estrutural.

É inegável que o endividamento trava o setor. A irrigação, apontada como uma das principais alternativas para reduzir a dependência do clima, esbarra justamente na falta de fôlego financeiro dos agricultores. Como investir em resiliência se mal se consegue pagar o que já se deve?

O debate sobre a securitização das dívidas é legítimo, mas precisa ser tratado com a responsabilidade de quem enxerga o amanhã. O Estado precisa liderar essa construção, buscando apoio político e econômico, pressionando o governo federal e abrindo caminhos para soluções que vão além do alívio momentâneo.

O Rio Grande do Sul é, historicamente, um celeiro do Brasil. Mas essa vocação só será preservada se houver coragem para mudar o rumo e investir em políticas de médio e longo prazo. Do contrário, estaremos condenados a viver de safras perdidas e de crises recorrentes.

O que está em jogo não é apenas a economia de um setor – é a sobrevivência de milhares de famílias e a garantia de um futuro sustentável para o agro gaúcho e para o Estado.

Foto: Jürgen Mayrhofer

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