COLUNA MARCOS ROBERTO NEPOMUCENO | Brasil envelhece rápido demais para um país que ainda não está pronto

O alerta já foi dado, os números são consistentes e o futuro, cada vez mais próximo: o Brasil caminha para se tornar um país de idosos. De acordo com o IBGE, em 2070, cerca de 37,8% da população brasileira terá 60 anos ou mais — o que significa 75,3 milhões de pessoas. Essa mudança demográfica acontece em ritmo acelerado, muito mais veloz do que o registrado em países europeus, que levaram um século para transitar de uma sociedade jovem para uma idosa. O Brasil fará isso em menos da metade do tempo.

É uma corrida contra o tempo. E, salvo o melhor juízo, ainda estamos nos primeiros passos enquanto o relógio avança depressa.

Os dados oficiais mostram que o número de idosos já ultrapassa o de jovens entre 15 e 24 anos no Brasil, e a idade média da população vem subindo ano após ano. Se em 2000 ela era de 28,3 anos, em 2023 chegou a 35,5. A projeção para 2070 é ainda mais significativa: 48,4 anos de idade média. Isso exige muito mais que preocupação: exige planejamento, ação concreta e continuidade nas políticas públicas voltadas a esse novo perfil de sociedade.

Há sim movimentações importantes no Congresso Nacional. Projetos foram votados no primeiro semestre com foco no envelhecimento. A Frente Parlamentar Mista em Defesa da Pessoa Idosa foi criada, com a senadora Damares Alves na presidência e a senadora Margareth Buzetti na secretaria. Também foi aberta a possibilidade de uma CPMI para apurar fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas do INSS.

Iniciativas relevantes? Sem dúvida. Mas isoladas, reativas e ainda tímidas diante do tamanho do desafio.

O Brasil precisa encarar de forma sistêmica o envelhecimento populacional. Isso inclui:

  • Reformar a previdência com justiça e sustentabilidade, sem demonizar o idoso que trabalhou a vida inteira;

  • Reestruturar o sistema público de saúde com foco em doenças crônicas e acompanhamento contínuo da terceira idade;

  • Fomentar programas intergeracionais, que promovam inclusão, troca de experiências e valorização do idoso como ativo social;

  • Ampliar o acesso à atividade física, cultura e lazer — não como favor, mas como direito;

  • Desenhar cidades mais acessíveis, com calçadas seguras, transporte público eficiente e estruturas adaptadas.

Se há uma certeza nesse século XXI, é que envelheceremos como sociedade. A pergunta é: envelheceremos com dignidade ou no abandono?

Cada número traz consigo uma história. E cada história exige respeito, planejamento e investimento.

Não se trata de futuro distante. Se trata do agora, do que faremos hoje para que os próximos 45 anos não sejam de improviso, mas de sabedoria — como convém a um país maduro. Ou que, pelo menos, pretende amadurecer.

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