As condições meteorológicas experimentadas na Serra Gaúcha durante o inverno, a primavera e o início do verão indicam que a safra 2021 de uva deverá ter produtividade maior e qualidade similar ou superior à experimentada em 2020, dependendo do grupo de cultivar, se precoce, intermediária ou tardia.
Esta é a avaliação de pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho e da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), publicada no Boletim Agrometeorológico da Serra Gaúcha, na edição de janeiro. O documento apresenta uma avaliação das condições meteorológicas ocorridas de outubro a dezembro de 2020 na região da Serra Gaúcha, além do prognóstico climático para o trimestre janeiro, fevereiro e março de 2021, associado a recomendações fitotécnicas para vinhedos.
No ciclo vitícola 2020/2021, as condições meteorológicas ocorridas na Serra Gaúcha durante o inverno e na primavera favoreceram o potencial de produção de uvas na região. “A primavera 2020 foi caracterizada por temperaturas do ar acima da média e chuva abaixo da média, especialmente no mês de outubro, quando foram registrados apenas 45 mm na estação meteorológica de Veranópolis, valor correspondente a 26% da média histórica. A configuração dos padrões de ocorrência do fenômeno La Niña pode ser considerada o principal fator associado aos baixos volumes de chuva registrados na primavera”, pontua a pesquisadora Amanda Junges, da Seapdr.
Conforme o documento, esta região vitícola apresenta muita variabilidade espacial entre parreirais, quanto à posição no relevo e profundidade de solo. “Então há variações nas condições edafoclimáticas, incluindo o potencial de armazenamento de água no solo e, consequentemente, nas respostas das plantas”, explica o pesquisador Henrique Pessoa dos Santos, da Embrapa Uva e Vinho.
Considerando que a restrição hídrica registrada na primavera 2020 foi inédita nos últimos cinco anos, o boletim recomenda que os produtores e técnicos façam uma análise dos parreirais localizados em locais mais restritivos em termos de capacidade de armazenamento de água no solo, considerando a erradicação em áreas pequenas ou, em áreas maiores, o investimento em sistemas de irrigação, para minimizar o risco climático e diminuir os danos em termos de produção e qualidade de uvas em safras futuras.
Outro ponto importante destacado é que as condições de estiagem, combinadas com grande amplitude térmica diária, de dias quentes e noites frias, ocorridas no final da primavera e início do verão, não anteciparam o ciclo e foram muito favoráveis para a quantidade e a qualidade enológica das uvas precoces. “Contudo, apesar de prevermos maior quantidade em relação à safra 2020, o prognóstico de maiores índices de chuvas em janeiro e fevereiro pode restringir o potencial qualitativo de algumas cultivares intermediárias e tardias. Portanto, nesses parreirais que ainda serão colhidos, essas condições de verão exigem maior atenção dos produtores para manter a sanidade e a qualidade desejada”, complementa Santos.
Na sanidade, a pressão de doenças como míldio, antracnose, escoriose e podridões foi menor no período de outubro a dezembro, apesar da ocorrência de alguns focos de oídio. Algumas pragas, no entanto, foram favorecidas e merecem atenção dos produtores até a colheita, como ácaros, traças dos cachos e mosca-das-frutas.
Em função do prognóstico de temperaturas do ar acima da média e da retomada das precipitações no verão, especialmente em janeiro, é importante que os produtores mantenham o monitoramento e o controle da ocorrência de doenças até a colheita, com destaque para míldio e podridões, respeitando os devidos períodos de carência para os produtos utilizados.
Foto: Fernando Dias/Ascom Seapdr