Os dados do Censo 2022, divulgados em relatório técnico de 2025 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trouxeram à tona um tema inquietante para os gaúchos: o Rio Grande do Sul registrou um dos maiores saldos negativos de migração entre os estados brasileiros. Entre os anos de 2017 e 2022, mais de 212 mil pessoas deixaram o estado, enquanto 134 mil chegaram, resultando em um saldo negativo de –77.839 habitantes. Em termos percentuais, o estado teve uma taxa líquida de –0,72%, a sexta pior do Brasil.
Mas o que torna esse dado ainda mais preocupante é o contraste com os demais estados do Sul. Santa Catarina, por exemplo, despontou como o grande vencedor do cenário migratório nacional, com um saldo positivo de +354 mil pessoas — o maior do país — representando 4,66% de sua população. O Paraná, por sua vez, também se destacou com um saldo migratório positivo de mais de 85 mil pessoas. A região Sul, portanto, avança no cenário nacional, mas o Rio Grande do Sul rema contra essa maré de crescimento.
Um estado que exporta talentos
Historicamente conhecido por sua força econômica, agroindustrial e cultural, o Rio Grande do Sul se vê, hoje, como um dos principais exportadores de mão de obra qualificada. A juventude, especialmente, tem buscado oportunidades em estados vizinhos, atraída por mercados de trabalho mais dinâmicos, incentivos ao empreendedorismo e melhor qualidade de vida. Santa Catarina se consolidou como um polo tecnológico, industrial e turístico, enquanto o Paraná avança na infraestrutura e atrai investimentos logísticos e produtivos.
A grande pergunta que fica é: por que o Rio Grande do Sul não acompanha esse crescimento, mesmo estando inserido numa das regiões mais prósperas do Brasil?
Problemas estruturais e estagnação
A resposta pode estar em um conjunto de fatores:
- Alta carga tributária estadual, que desestimula empreendimentos e investimentos;
- Burocracia excessiva para abertura e manutenção de negócios;
- Conflitos políticos e polarizações constantes, que emperram reformas administrativas e econômicas;
- Envelhecimento populacional mais acentuado, que reduz o dinamismo demográfico e produtivo;
- E, talvez o mais sensível: falta de um projeto de futuro comum e coeso, que una sociedade civil, governo e setor produtivo.
Esses aspectos, somados, contribuem para a percepção — e a realidade — de que o Rio Grande do Sul perde competitividade diante dos seus vizinhos.
Um fenômeno nacional em transformação
É importante notar que, pela primeira vez desde 1991, estados como São Paulo e Rio de Janeiro também registraram saldos migratórios negativos. O eixo Sudeste já não concentra mais toda a atração populacional, abrindo espaço para o crescimento de estados como Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e, principalmente, os sulistas Santa Catarina e Paraná.
Ou seja, o país está se reorganizando demograficamente. Mas o Rio Grande do Sul, ao invés de liderar essa reorganização, se encontra em retração.
Para onde vamos?
O desafio agora é político, econômico e cultural. É preciso que o Rio Grande do Sul reveja suas prioridades, valorize suas vocações e redesenhe políticas públicas capazes de reter talentos e atrair novos moradores. O gaúcho sempre foi símbolo de força, bravura e inovação. Mas hoje, precisa também ser símbolo de reação e reinvenção.
O momento exige não só autocrítica, mas ação concreta. Caso contrário, continuaremos a ver a fila andar — e o RS ficar para trás.