Filhote de ouriço é tratado no Hospital Veterinário da UPF

O animal silvestre chegou recém-nascido, ferido, e recebe tratamento há 60 dias

Há dois meses, um filhote de ouriço, de apenas 38 gramas e ainda com o cordão umbilical, dava entrada no Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo (UPF). Com um corte profundo, o filhote foi resgatado por uma moradora de Ernestina, que encontrou o ouriço sem a mãe, perto de uma árvore em uma propriedade rural. Percebendo que o animal estava ferido e órfão, encaminhou o filhote para o Hospital Veterinário. O ouriço é um animal dócil e, ao contrário do que muita gente pensa, não “lança” espinhos. Ele eriça (arrepia) os pelos como forma de defesa, e se for tocado ou mordido por outro animal neste momento, os espinhos se desprendem.

O ouriço recebe o tratamento necessário no Hospital Veterinário e todos os cuidados e atenção que um filhote precisa. Quando chegou ao hospital, em razão de ser um recém-nascido, ainda não enxergava. Precisou de amamentação a cada duas horas, recebeu aquecimento, entre outros estímulos necessários para a sua sobrevivência.

Até o momento não foi possível determinar as causas do ferimento. “Ele chegou com uma lesão muito grande na axila direita, muito profunda, parecia ter sido feita por uma faca ou algo do tipo, mas não podemos afirmar. Como ele era muito novinho e não sabíamos o quanto ele tinha sido amamentado pela mãe, a gente optou por um tratamento alternativo com ozonioterapia e laserterapia, sem antibióticos e com analgésico. O tratamento foi feito em parceria com uma clínica da cidade”, explica a médica veterinária do Hospital e professora da UPF, Me. Michelli De Ataide, que é coordenadora do Grupo de Estudos de Animais Silvestres (Geas/UPF).

Agora, o ouriço já está bem melhor. “Ele melhorou bem da ferida e vem crescendo. Já mama só uma vez por dia e vem se alimentando. No momento em que parar de mamar será destinado para um mantenedouro de fauna silvestre, designado pelo órgão ambiental fiscalizador”, revela a professora Michelli.

O ouriço é um mamífero roedor. É dócil, mas muitas pessoas têm receio em virtude de o corpo do animal ser coberto por pelos em forma de espinhos. Não é raro casos de animais, em especial cachorros, serem feridos ao atacar ouriços, mas isso não significa que eles são agressivos, é apenas a sua defesa natural. “O ouriço tem pelos queratinizados, que servem como proteção. Ele não ‘lança’ espinhos, mas, assim como outros animais, eriça o pelo ao se sentirem ameaçados. Se algo tocá-los ou agredi-los, os espinhos vão se desprender e machucar. Mas ele é uma espécie pacífica, não são perigosos. Ao se deparar com humanos, tendem a fugir”, comenta Michelli.

Acidentes envolvendo ouriços estão ocorrendo com mais frequência em virtude da destruição do habitat natural deles. Os animais silvestres estão cada vez mais perto da zona urbana. “A espécie está se tornando urbana, porque eles não têm mais um habitat pra eles. Acidentes estão acontecendo em razão dessa aproximação do meio verde e urbano. Os ouriços tendem a ficar onde tem alimentação mais fácil, próximo a lixeiras, árvores frutíferas. Eles são mais vegetarianos, se alimentam de frutas, folhas, brotos, sementes, raízes e, eventualmente, de insetos”, observa a professora.

A médica veterinária salienta a importância da preservação desse animal e alerta para as pessoas não tocarem no ouriço. “Ao avistar um ouriço, deixe ele quietinho, não precisa mexer nele. Ele vai ter medo de humanos e vai fugir como forma de se proteger. Quando muito necessário, chame um órgão específico para fazer a captura, como o Batalhão Ambiental, por exemplo”, alerta Michelli.

Detalhes sobre a espécie
O ouriço-cacheiro (Coendou spinosus) é um roedor de porte médio, de hábitos noturnos que pertence à família Erethizontidae. É um animal silvestre, representado no Rio Grande do Sul por uma só espécie: o ouriço-cacheiro. Conforme informações levantadas pelo biólogo Élinton Rezende, responsável técnico do Zoológico da UPF e Laboratorista do Museu Zoobotânico Augusto Ruschi (Muzar/UPF), além dos pelos modificados em forma de espinhos que ficam encobertos por pelos finos e longos, outra característica desta espécie são as adaptações como cauda preênsil, que o auxilia nas movimentações dentre os galhos de árvores.

A espécie não consta na lista como animal ameaçado de extinção, contudo a fragmentação de habitats florestais os obriga a descer ao solo e percorrer longas distâncias por áreas abertas, facilitando dessa forma o encontro e acidentes com cães, além dos atropelamentos em rodovias. “Vale salientar que ele é um animal dócil, não oferecendo perigo se não for contido ou atacado, ele não lança os espinhos. Se ele é atacado, se encolhe protegendo a cabeça e abdômen e deixa a mostra os espinhos eriçados do restante do corpo”, ressalta o biólogo.

Foto: Tainá Binelo

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