Já foi o tempo em que dizer “vamos sair hoje” era sinônimo de colocar uma boa roupa, reunir os amigos e circular pelos vários pontos da agitada vida noturna de Lagoa Vermelha. Quem viveu as décadas de 90 e o início dos anos 2000 sabe bem do que estou falando. Havia movimento, havia entusiasmo e — por que não dizer? — uma cena noturna rica, animada e cheia de identidade.
Tínhamos o Coelhos Bar, o lendário Cabanas Bar e tantos outros espaços que fizeram história. A cidade vibrava aos finais de semana — o som era alto, as mesas estavam sempre cheias, e havia uma efervescência que contagiava. As festas nos clubes sociais também eram parte essencial desse cenário: o Clube Comercial, o Clube Lagoense, a ABAMF, entre outros, mantinham programações frequentes, com bailes, jantares dançantes e eventos que mobilizavam jovens, casais e famílias inteiras.
Hoje, o que vemos é uma noite silenciosa demais.
O que aconteceu com a nossa noite? Faltou continuidade? Faltou renovação? Ou será que a juventude atual já não se interessa mais por esse tipo de convivência? Não é um julgamento, é uma inquietação. Nós, os “quarentões”, “cinquentões” e por aí vai, seguimos relembrando os tempos em que sair era quase um ritual. Um momento esperado. Uma chance de encontrar gente, viver histórias e colecionar memórias.
As casas fecharam. Os clubes se calaram. O que era uma tradição virou apenas lembrança. Mas por quê? Falta de público? Falta de coragem para inovar? Ou estamos presos demais às memórias, sem conseguir estimular uma nova fase para a vida noturna de Lagoa?
A verdade é que a cidade precisa viver também à noite. Precisa respirar cultura, música, encontro. Não há futuro para uma cidade onde a luz se apaga cedo demais.
Fica aqui a provocação: quem vai reerguer a noite de Lagoa Vermelha? Talvez não seja para repetir o passado, mas para inventar algo novo com a mesma essência: gente reunida, boa música, bons momentos.
Lagoa merece. Nós também.
