COLUNA MARCOS ROBERTO NEPOMUCENO | “Quando o jogo vira doença: um debate necessário”

Na CPI das Bets, um pronunciamento surpreendente reverberou além das paredes do Congresso: “Hoje a ludomania é classificada como uma doença, um transtorno mental”. A frase, dita pelo influenciador digital e sacerdote Padre Patrick, joga luz sobre uma discussão urgente que vai além da fé e mergulha na saúde pública.

UM DIAGNÓSTICO QUE NÃO SE PODE IGNORAR

Diferente do que se poderia esperar, Padre Patrick não invocou argumentos teológicos. Falou com base em evidências científicas. E tem razão. A Organização Mundial da Saúde reconhece o vício em jogos como transtorno mental. Psicólogos e psiquiatras vêm alertando: o avanço das plataformas de apostas on-line, somado à ausência de regulamentação adequada, está produzindo vítimas silenciosas — muitas vezes jovens — levadas pela falsa promessa de enriquecimento instantâneo.

O OUTRO LADO DA APOSTA

É inegável que o setor movimenta bilhões e impulsiona diversas áreas da economia, do esporte à publicidade. Mas até que ponto esse impulso econômico justifica o custo humano e social? Famílias em colapso, dívidas impagáveis, evasão escolar e até suicídios são consequências que não aparecem nas propagandas com rostos sorridentes de celebridades.

REGULAMENTAR NÃO É PROIBIR, É PROTEGER

Defender a regulamentação das apostas não é demonizar o jogo. É proteger o cidadão. Países como Reino Unido e Austrália já aplicam mecanismos rigorosos: limites de apostas, restrição de horários, proibição de marketing para menores e sistemas de autoexclusão. E no Brasil? Ainda estamos discutindo o básico. A fala do padre — respaldada pela ciência — deve servir como ponto de partida para políticas sérias, não para memes nas redes sociais.

O QUE ESTAMOS DISPOSTOS A PERDER?

Há quem defenda que apostar faz parte do livre-arbítrio. Sim, mas o livre-arbítrio termina onde começa a dependência. E quando ela se instala, exige tratamento — não julgamento. Cabe ao poder público, ao Parlamento, à mídia e à sociedade civil construírem um pacto de responsabilidade.

Se não fizermos nada agora, talvez estejamos apostando — literalmente — o futuro de toda uma geração.

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