COLUNA MARCOS ROBERTO NEPOMUCENO | Galeria Rosa: quando a memória reconhece, a política se humaniza

Na tarde da última quinta-feira, 22, Capão Bonito do Sul fez mais do que inaugurar um espaço físico no saguão da Câmara de Vereadores. Com a instalação da Galeria Rosa, o município eternizou um gesto que, à primeira vista, pode parecer simples, mas carrega um peso histórico e simbólico imensurável: reconhecer, em vida ou em memória, a presença feminina na política local.

Não se trata apenas de um painel fotográfico com nomes e rostos de mulheres que ocuparam cadeiras no Legislativo desde 2001. Trata-se de um acerto de contas com a história. De uma reparação silenciosa que transforma o esquecimento em reverência, o anonimato em legado.

A política, tantas vezes acusada de ser fria e distante, se aquece quando se aproxima da verdade e do reconhecimento. E a verdade é que essas mulheres — Carla, Silvia, Margarete, Luciana, Aline, Idianesa, Maria, Neuza, Iracema — enfrentaram estruturas historicamente excludentes para estarem ali. Cada uma à sua maneira, com suas dores e virtudes, com firmeza ou serenidade, escreveu uma linha que agora compõe um capítulo coletivo da democracia capãobonitense.

Durante a cerimônia, o discurso do presidente da Câmara, Júlio Cesar Gonçalves, foi mais que institucional. Foi pessoal, emocionado e verdadeiro. O vice-prefeito Miqueias Guadagnin, ao representar o Executivo, foi enfático: que a Galeria não seja estática, mas sim um chamado ao futuro. Já o vereador Rodrigo Colla, em nome das bancadas, nos lembrou que legislar é mais que propor leis — é ser voz, presença, resistência.

Mas talvez a homenagem à vereadora Silvia Zanette, criadora do projeto “Vereador por um Dia”, tenha sintetizado tudo: a política que educa, inspira e semeia.

Vivemos tempos em que os discursos se esvaziam rapidamente. Por isso, quando uma ação institucional carrega conteúdo, coerência e propósito, ela merece ser celebrada. A Galeria Rosa é um desses raros momentos em que a política reencontra sua razão mais nobre: lembrar de quem serviu e inspirar quem virá.

Que ela continue crescendo. Que outros nomes femininos ocupem aquelas cadeiras e, futuramente, seus lugares naquela parede. Que nenhuma jovem do interior ache que a política não é para ela. Que cada mulher que passa pelo saguão da Câmara saiba: a história também é feita com o seu rosto.

 

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