COLUNA MARCOS ROBERTO NEPOMUCENO | As novas configurações do amor e da família

Por Marcos Roberto Nepomuceno – jornalista da NG Revista

Os números divulgados pelo IBGE e destacados em reportagem do jornal O Globo apontam para uma revolução silenciosa e profunda nas relações afetivas e familiares no Brasil. Queda nos casamentos, aumento nos divórcios e crescimento das uniões homoafetivas não são apenas dados estatísticos — são, acima de tudo, reflexos de transformações culturais, sociais e econômicas em curso.

Vivemos um tempo de mudanças aceleradas. Os modelos tradicionais de família, por séculos sustentados por estruturas conservadoras, passam a dividir espaço com novas formas de afeto e convivência. O aumento das uniões entre pessoas do mesmo sexo, especialmente entre mulheres, é um indicativo claro de que o amor, em sua pluralidade, ganha cada vez mais espaço e legitimidade. Isso é um avanço. Um avanço civilizatório que precisa ser reconhecido e respeitado.

Por outro lado, a queda dos casamentos e o aumento das separações nos provocam reflexões. Estaria o compromisso perdendo valor? Ou estamos diante de um movimento de maior consciência sobre o que significa amar e construir uma vida a dois? Talvez a resposta não esteja nos extremos. Muitos casais optam por não casar formalmente porque compreendem que a relação não precisa da chancela do papel para existir. Outros preferem romper quando percebem que a continuidade representa mais sofrimento que crescimento. E isso, em muitos casos, também é um ato de coragem.

Mas há também o lado sensível dessa nova realidade: crianças crescendo em lares desfeitos, adultos fragilizados emocionalmente, relações substituídas com a rapidez de um clique. Em nome da liberdade, pode-se estar também promovendo o desapego excessivo. Há que se ponderar, com equilíbrio, até que ponto as facilidades modernas não estão empobrecendo a profundidade das relações humanas.

Esta coluna, portanto, não pretende emitir julgamentos morais. Pretende apenas provocar a reflexão. A sociedade muda, e com ela mudam os valores e as estruturas que a compõem. Cabe a nós, enquanto comunicadores e cidadãos, acompanhar essa evolução com respeito, mas também com espírito crítico e empatia. O que está em jogo não é apenas o futuro dos relacionamentos, mas a saúde emocional de uma geração inteira.

Que saibamos, enfim, encontrar o ponto de equilíbrio entre o amor livre e o amor comprometido. Entre a coragem de se reinventar e a sabedoria de persistir.

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