Cainã Mello vê 2025 como um ano de resistência, impaciência coletiva e perda do diálogo

Reportagem: Marcos Roberto Nepomuceno

O ano de 2025 deixou marcas profundas na sociedade brasileira. Entre tensões políticas, dificuldades econômicas e um cotidiano cada vez mais acelerado, a sensação predominante foi a de um permanente estado de pressão. Para o advogado Cainã Mello, o período pode ser definido como uma mistura intensa de resistência e aprendizado constante.

A geração da pressa e o esgotamento do diálogo

Na avaliação de Cainã, 2025 evidenciou um traço preocupante da sociedade contemporânea: a incapacidade de esperar. Segundo ele, vive-se uma era em que tudo precisa ser imediato, onde a paciência e a tolerância parecem esgotadas. Essa pressa se reflete no trânsito, nas relações pessoais, no lazer, na política e na economia, criando um ambiente de tensão contínua.

No campo político, Cainã destaca como especialmente nociva a divisão constante entre “nós” e “eles”, que acaba silenciando o diálogo e transformando divergências em conflitos. Para ele, um dos maiores prejuízos de 2025 foi a dificuldade de conversar sem transformar cada ideia diferente em uma trincheira.

Economia, futebol e o espelho da desigualdade

No aspecto econômico, Cainã aponta um cenário persistente de frustração, marcado pela sensação de estagnação e pelo impacto direto no dia a dia das pessoas. Até mesmo no futebol, espaço tradicionalmente visto como um respiro, o ano foi de dificuldades. Colorado declarado, ele avalia que os clubes gaúchos enfrentam um atraso estrutural que amplia desigualdades e reflete problemas presentes em outras áreas da sociedade.

2026 sem ilusões, mas com responsabilidade e empatia

Ao projetar 2026, Cainã Mello evita expectativas de soluções mágicas. Para ele, o próximo ano será reflexo das escolhas feitas agora, exigindo seriedade, compromisso e esforço contínuo. Apesar do tom crítico, defende que ainda há espaço para diálogo, empatia e construção coletiva. “Nem tudo é um mar de rosas, mas também não é um campo de cinzas”, resume.


| O depoimento de Cainã Mello

**“O ano de 2025 foi uma daquelas misturas indigestas de resistência e aprendizado constante. O Brasil todo, e a gente junto, viveu num cabo de guerra sem fim, não só na política, que já é de praxe, mas no nosso próprio dia a dia.

Criamos um cenário de que tudo é para ontem, de uma paciência e tolerância esgotadas, como se fôssemos a geração da pressa e essa tenha ditado o tom. Vemos isso no trânsito, nas discussões, no lazer que precisa ser instantâneo, e claro, na política e na economia. É como se a gente perdesse o fôlego para esperar, para construir a longo prazo, para simplesmente ser. Essa impaciência, me parece, é o motivo de muitas das nossas angústias.

Falando em política, que sempre foi um terreno minado, o que mais me incomoda é a divisão criada entre o ‘nós’ e ‘eles’, que tem a capacidade de simplesmente calar o diálogo. Somos um mesmo povo, semelhantes nas diferenças, com interesses quase nunca idênticos, mas sempre legítimos, e acabamos nos tornando rivais de uma mesma causa. Sentar, escutar, debater ideias sem querer ‘vencer’ o outro virou raridade. A divergência passou a ser vista como ofensa em segundos. Se algo se perdeu em 2025, foi justamente a capacidade de conversar sem transformar cada ideia diferente em uma trincheira de guerra.

Economicamente, seguimos em um caminho desafiador. A sensação de que ‘as coisas não engrenam’ virou rotina. Os desequilíbrios batem no bolso, e a expectativa de uma vida mais tranquila parece se afastar para muita gente.

Até no futebol, que sempre foi um respiro para mim, 2025 não deu trégua. Como colorado, acompanhei um Internacional de altos e baixos, com alívio por escapar do rebaixamento, mas também com a frustração do ‘quase’. Os clubes gaúchos ficaram presos a uma mentalidade ultrapassada, ampliando um abismo estrutural em relação aos grandes centros. Um espelho amargo que se repete em tantos outros aspectos da nossa realidade.

Para 2026, evito cair na armadilha da esperança por uma virada mágica. O próximo ano será, mais uma vez, reflexo do que fizermos agora. Não existem atalhos. Resultados melhores exigem seriedade, compromisso e esforço.

Se 2025 me ensinou algo, foi a importância de manter os pés no chão e os olhos no que realmente importa. Que 2026 seja um ano de mais diálogo e mais empatia — na política, no futebol e na vida.”**

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